Seca severa de 2024 já estava sendo prevista por especialistas desde o início do ano. Mais de 5 rios do estado apresentam níveis considerados abaixo da cota média para o verão amazônico.
A seca severa de 2024, prevista por especialistas desde o início do ano, já está afetando rios da região Norte. Em Rondônia, os principais rios estão com níveis abaixo da média histórica para o período de estiagem, segundo informações da Defesa Civil Estadual.
No início do mês de julho, o governo do estado declarou emergência em razão do período ‘crítico’ de estiagem enfrentado. O documento aponta uma diminuição significativa nos níveis dos rios e baixas previsões de chuva, devido aos resquícios do fenômeno El Niño.
Na última sexta-feira (19), a Defesa Civil Nacional, reconheceu a situação de emergência em 18 das 52 cidades de Rondônia que enfrentam um período de estiagem. A portaria permite a mobilização de recursos federais para ajudar os municípios.
Conforme a Defesa Civil, sete rios apresentam níveis considerados abaixo da cota média e próximos da mínima histórica para a época do ano, conhecida como o verão amazônico, são eles: Candeias, Guaporé, Jamari, Mamoré, Machado, Madeira e Pirarara.
A cota média refere-se ao nível normal de água que o rio atinge ao longo de um período específico, neste caso, durante o período de estiagem. Já a cota mínima é o nível de água mais baixo que o rio atingiu na temporada.
Segundo o Boletim Diário de Monitoramento de Eventos Hidrometeorológicos Críticos, desenvolvido pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), alguns dos principais rios do estado, já apresentam níveis considerados ‘críticos’, como o caso do Madeira Mamoré, em Porto Velho.
Conforme os dados, os níveis de vazão dos afluentes estão próximo das mínimas históricas para esta temporada no ano: alguns a menos de 10 centímetros de atingir essa cota, como o Mamoré (Guajará-Mirim) e Machado (Ji-Paraná).
Enquanto isso, o rio Candeias, que atravessa o município de Candeias do Jamari, já se encontra abaixo da cota mínima histórica para o período, que é de 10,48 metros, conforme informações do boletim.
Cota dos rios de RO registrada no dia 16 de julho
Rios | Nível – 2023 | Nível – 2024 |
Candeias | 11,11 m | 10,18 m |
Guaporé | 6,46 m | 4,12 m |
Jamari | 2,98 m | 1,73 m |
Mamoré | 7,25 m | 6,11 m |
Machado | 6,72 m | 6,39 m |
Madeira | 5,30 m | 3,32 m |
Pirarará | 1,11 m | 1,22 m |
Dois estados vizinhos a Rondônia, o Amazonas e o Acre também enfrentam um cenário de seca. Na última semana, o Amazonas decretou emergência em 20 das 62 cidades do estado por conta da estiagem. No Acre, a seca ocorre poucos meses após uma cheia recorde.
Chuvas abaixo do esperado
Ainda conforme o Boletim de Monitoramento, nas estações de cinco cidades rondonienses onde os rios encontram-se em baixos níveis, as precipitações acumuladas em julho foram de 0,0 mm, ou seja, não choveu nessas localidades.
Em Guajará-Mirim, foram registrados 11mm de precipitação nos primeiros 12 dias de julho: 58% abaixo da média. Já na capital Porto Velho, o acumulado registrado foi de 8mm, o que representa apenas 27% das chuvas esperadas para o mês.
Chuvas registradas nas estações de RO nos 12 primeiros dias de julho de 2024
Cidade | Rio | Acumulado de chuva (mm) |
Candeias do Jamari | Candeias | 00,00 |
Costa Marques | Guaporé | 00,00 |
Ariquemes | Jamari | 00,00 |
GuajaráMirim | Mamoré | 11,00 |
Ji-Paraná | Machado | 00,00 |
Porto Velho | Madeira | 8,00 |
Cacoal | Pirarara | 00,00 |
Além disso, em todas as regiões, os índices de chuva estão abaixo da média histórica mensal para o período, segundo o boletim da Sedam.
Um dos motivos para o Governo de Rondônia ter decretado estado de emergência há duas semanas, são os baixos níveis de precipitação prolongados, que estão impactando os níveis dos rios no estado.
De acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônica (Censipam), a previsão do tempo para os próximos dias é muito sol, pouca nebulosidade e sem possibilidades de chuvas em todas as regiões do estado.
Seca severa em 2024
Em 2023, o rio Madeira chegou ao menor nível já registrado na história. Bancos de areia e montanhas de pedras surgiram onde antes era possível enxergar somente água. Desde então, especialistas já previam uma seca ainda mais extrema no estado em 2024.
Segundo a ANA, entre novembro e dezembro do ano passado, áreas com seca grave e extrema foram identificadas nos rios rondonienses, principalmente em rios no sul de Rondônia e oeste de Mato Grosso. Com isso, a situação diagnosticada indica uma escassez de maior de água.
No início de 2024, oito municípios do estado já estavam estão em emergência devido aos efeitos da estiagem. Na última sexta-feira (19), o Governo Federal publicou uma portaria que reconhece a mesma situação em outras 12 cidades.
Veja a lista dos municípios em situação de emergência no estado
De acordo com informações do Censipam, os rios do estado deve atingir um estado crítico e a seca deve ser mais severa neste ano. Além disso, o Atlântico Norte está aquecendo e isso é motivo de preocupação para os especialistas.
O que está causando a seca?
A redução dos níveis dos rios causado pelas baixas precipitações, que o Norte enfrenta desde outubro do ano passado, está relacionada a dois fatores que inibem a formação de nuvens e chuvas — comprometendo o nível do manancial, são eles:
Oceano Atlântico Norte mais aquecido que o normal, e mais quente que o Atlântico Sul.
Fenômeno El Niño, que causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.
Tradicionalmente, o fenômeno El Niño causa secas no Norte e Nordeste do país — e chuvas abaixo da média — principalmente nas regiões mais equatoriais; além de provocar chuvas excessivas no Sudeste e Sul do país. O El Niño é a fase positiva do fenômeno chamado El Niño Oscilação Sul (ENOS). Ou seja, quando ele está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso.
Conforme o Censipam, o fenômeno está perdendo intensidade sobre a região do Pacífico Equatorial e deve passar por uma fase de neutralidade antes de se configurar como La Niña, sua fase oposta. Mesmo com a perda de intensidade, ele ainda deve exercer influência sobre o clima de Rondônia.
Segundo o International Research Institute for Climate and Society, os dois fenômenos, El Niño (EN) e La Niña (LN), tem as seguintes características:
tendem a se desenvolver entre abril e junho;
atingem o pico entre outubro e fevereiro;
duram entre 9 e 12 meses;
podem persistir por até aproximadamente 2 anos;
recorrem em intervalos de 2 a 7 anos
De acordo com meteorologistas do Censipam, a La Niña começa a se manifestar sobre o Pacífico Equatorial entre julho e setembro, mas os efeitos dessa mudança climática devem demorar a ser percebidos no estado, sendo mais evidentes próximo ao final deste ano (2024).
O segundo fenômeno que afeta a Amazônia é o aquecimento anormal das águas do Oceano Atlântico, que também reduz a quantidade de chuva na região.
Com a água dos oceanos mais quente, as correntes ascendentes carregam ar aquecido para a atmosfera. Esse ar segue até a Amazônia por meio de duas correntes descendentes, que deve diminuir a chuva.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos explica que, no setor mais a oeste, onde está localizado o rio Madeira, por exemplo, o Dipolo do Atlântico acaba tendo maior influência, pois esse aquecimento maior das águas do Atlântico Norte desfavorece a formação de nuvens de chuva sobre esta região.
Fonte: G1/RO