Grupo ‘sem-terra’ que invadiu fazenda em Chupinguaia diz que irá resistir à reintegração: ‘nem que a coisa engrosse, essa terra é nossa’; veja a nota


Em nota publicada no site da Associação Brasileira dos Advogados do Povo (ABRAPO), a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), acusada de invadir a fazenda Nossa Senhora Aparecida, em Chupinguaia, promete resistir à tentativa de reintegração de posse no local.

Neste semana, o FOLHA DO SUL ON LINE entrevistou o secretário de Estado da Segurança Pública de Rondônia, coronel PM José Hélio Pachá, que prometeu desocupar a propriedade antes dos 180 dias concedidos pela justiça (LEMBRE AQUI).

Na nota veiculada esta semana, a LCP acusa fazendeiros de usarem policiais militares da ativa como pistoleiros, e critica a manifestação de fazendeiros, que fizeram carreata em Chupingauaia, antes de se dirigirem à propriedade que virou palco do conflito agrário.

A entidade também faz referências ao “Massacre de Corumbiara”, sangrento confronto entre PMS e sem-terras que deixou vários mortos na mesma área, em 1995.

“Nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa!”. Diz um trecho da nota das famílias da área Manoel Ribeiro.

CONFIRA A NOTA NA ÍNTEGRA:

Nos últimos dias em Rondônia uma enxurrada de ataques e calúnias vem sendo movida contra as famílias do acampamento Manoel Ribeiro, que desde agosto de 2020 tomaram a fazenda Nossa Senhora Aparecida, no município de Chupinguaia, próximo ao município de Corumbiara. Esta fazenda é a última parte da antiga fazenda Santa Eliana ocupada pelos camponeses. Em 1995 foi palco da heroica resistência camponesa, no que ficou conhecido como “massacre de Corumbiara”.

Através da imprensa lixo de Rondônia, porta-voz do latifúndio, elementos reacionários alvoroçados com a destruição de algumas edificações da fazenda, destilam ódio contra os camponeses da área Manoel Ribeiro. Tais edificações serviam como pontos de apoio da pistolagem da fazenda para atacar as famílias.

Ao mesmo tempo que atacam raivosamente a luta dos camponeses pela posse dessas terras, pouco falam sobre a comprovação do que todos na região sabem, a existência de bando armado contratado pela fazenda, comandado e integrado por policiais. Que latifundiários mantêm bandos armados com participação de policiais, e que isso tem cobertura direta e indireta do velho Estado não é nenhuma novidade em Rondônia. Mas a situação é tão evidente que se viram obrigados a ter que efetuar na última semana apreensão de armas e a prisão de cerca de 11 pistoleiros, sendo pelo menos 3 policiais, incluindo um sargento, dentro da fazenda Nossa Senhora Aparecida.

A flagrante atuação desses bandos armados, combinados com as ações da polícia e seu velho Estado para atacar famílias de camponeses pobres, que buscam terra para trabalhar, sustentar sua família e viver com dignidade não são motivos de preocupações para os porta-vozes do latifúndio e da polícia.

Fazendeiros da região se fazendo de vítimas, clamam por mais repressão contra os camponeses. Para essa gente, a vida de um trabalhador não vale nada, vale menos que uma cabeça de gado ou uma saca de soja.

Recentemente um punhado de latifundiários endinheirados fez ridícula manifestação, desfilando suas luxuosas caminhonetes na cidade de Chupinguaia, e se reuniram na sede da Fazenda Nossa Senhora pra cantar o hino nacional.

Diferente do que querem fazer crer, o latifúndio não contribui em nada para o desenvolvimento do país. Ao contrário, é a existência do latifúndio, a principal causa da miséria do povo e das mazelas que atrasam e impedem o progresso da nossa nação.

Os latifundiários, que são uma ínfima minoria da população, mas detêm mais da metade das terras agricultáveis, são os verdadeiros parasitas, são ladrões de terras públicas da União, assassinos de camponeses, indígenas e quilombolas, não pagam impostos, empregam uma minoria de pessoas (com exceção do setor de frigorífico) e são os únicos que não contribuem para a previdência social, contam com fartos financiamentos públicos e sucessivos perdões de dívidas, além de outros indecentes privilégios. Ao contrário de trazer desenvolvimento, onde existe latifúndio, que não compra um prego sequer no comércio local, reina o atraso, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Os latifundiários ladrões de terras da União querem a todo custo manter seus privilégios as custas da miséria, exploração e sangue dos pobres.

É por isso que se lançam com tanto ódio contra a justa luta camponesa, essa sim, luta que pode resolver problemas fundamentais que se arrastam há séculos sem solução no nosso país. Onde avança a Revolução Agrária, com a destruição do latifúndio e conquista da terra cortando e distribuindo parcelas aos camponeses pobres sem terra ou com pouca terra, a situação se desenvolve e muda a favor dos camponeses, pequenos comerciantes, e demais trabalhadores. Milhares de famílias com seu pedaço de terra reduz o desemprego, aumenta a produção de alimentos, fortalece o mercado, e leva progresso pra cidade, principalmente das pequenas.

Servindo aos interesses do latifúndio, no dia 29 de março, o governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha, se reuniu com integrantes do governo incluindo aí o secretário de segurança, coronel José Hélio Cysneiros Pachá, que em 1995 em Corumbiara foi um dos oficiais comandantes da pm que perpetraram assassinatos, torturas e outros odiosos crimes contra camponeses na então fazenda Santa Elina.

Nessa reunião o governador exigiu o despejo a qualquer custo das famílias que tem a posse das terras, exigiu que não sejam medidos esforços para atender os interesses do latifúndio, que se aumente a repressão, que a pm invada o acampamento, realize prisões e tirem os camponeses da área. Nenhuma palavra contra as ilegalidades do latifúndio, nenhuma palavra sobre policiais da ativa atuando como pistoleiros, nenhuma palavra sobre as arbitrariedades cometidas pela polícia militar nem pelos disparos de policiais fardados contra o acampamento.

Os camponeses disputam a posse das terras do latifúndio Nossa Senhora Aparecida desde quando se completaram 25 anos dos episódios de 1995 em Corumbiara. O corte dessas terras e garantia da sua posse as famílias que ali se encontram é acerto de dívida histórica. E não adianta argumentar que é latifúndio produtivo e coisa do tipo. Mesmo que o fosse, ainda assim a justeza estaria do lado dos camponeses, mas no caso concreto o que se tem de produção na fazenda é fruto de artimanha, de plantio tardio após a tomada das terras pelos camponeses para fazer crer a opinião pública que a fazenda é produtiva, e não justificaria sua ocupação.

A luta dos camponeses pela posse dessas terras não somente é justa como é exemplo para milhares de camponeses, representa o novo, expressa o caminho para as transformações atrasadas e pendentes que o país precisa, começando pela democratização da posse das terras. Tal luta aponta o caminho e saída para os pobres do campo, diante da situação de crise cada vez mais grave em que vivemos. Por isso a luta dos camponeses do acampamento Manoel Ribeiro causam tanto temor, e desperta o ódio dos latifundiários e do velho Estado.

A sanha do latifúndio e do governo e a manifesta intenção de criminalizar, isolar, despejar as famílias, e prender suas lideranças, não vai frear a justa luta camponesa. Uma vez mais, as famílias resistirão aos ataques com firmeza ainda maior, pelo significado da luta por essas terras encharcadas de sangue. Cabe reproduzir trecho de nota das famílias da área Manoel Ribeiro divulgada em outubro passado, intitulada “O sangue derramado na Santa Elina corre em nossas veias!” que deixa isso bem claro:

“Basta! Não abaixaremos mais nossas cabeças! Queremos o que é nosso por direito! Aqui queremos apenas um pedaço de terra para viver, trabalhar e tirar o sustento de nossas famílias com dignidade, mas nossa luta vai além, queremos justiça, um poder de nova democracia e um Brasil novo para nossos filhos e netos.

Queremos viver em paz, mas se nos oferecerem guerra, terão guerra! Nós não sairemos de nossas terras! Estamos unidos e organizados! Se moverem aparato de guerra contra nós, para tentar nos tirar da terra, tenham certeza que resistiremos com unhas, dentes e da forma que pudermos. Se a ferro e fogo nos despejar das nossas terras, voltaremos amanhã de novo, tendo aprendido como enfrentá-los, pois a lei do povo, confirmada pela história em todo o mundo, é lutar e fracassar, voltar a lutar e fracassar de novo, tornar a lutar até obter a vitória completa e definitiva contra seus carrascos, exploradores e opressores! Quanto mais tempo demorar nossa vitória, mais alto será o preço que estes bandidos latifundiários ladrões de terras da União irão pagar!

Essas terras estão regadas com sangue dos camponeses que heroicamente resistiram e lutaram por elas em 1995 e dos povos indígenas chacinados por latifundiários e seu velho Estado. E se for necessário, juntaremos nosso sangue ao desses heróis. Assim como os combatentes de Santa Elina em 1995, hoje 25 anos depois gritamos com firmeza: Nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa!”

O sentimento das famílias acampadas na área Manoel Ribeiro, pode ser bem resumido em faixa erguida por camponeses na área: “As terras da Santa Elina estão encharcadas de sangue camponês! Não sairemos daqui!”

Abaixo o conluio criminoso dos governantes, da Justiça e da polícia com os latifundiários ladrões de terras da União!

Abaixo a criminalização da luta pela terra!

Defender a posse das terras pelos camponeses da área Manoel Ribeiro!

As terras da antiga Santa Elina são do povo!

Todo apoio aos camponeses da área Manoel Ribeiro!

Conquistar a terra, destruir o latifúndio!

Viva a Revolução Agrária, morte ao latifúndio!

Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental

Fonte: Folha do Sul 


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